A Pequena Farmácia Literária, de Elena Molini

 


O título é apelativo e a capa deliciosa: desde o painel de cores ao gatinho que observa a menina a carregar sobre os seus braços uma série de livros.

Inspirada numa livraria situada em Florença, A Pequena Farmácia Literária conta-nos a história de Blu Rocchini (pela sua voz): uma jovem de trinta anos e dona de uma livraria independente de nome Novecentos, que se depara com o seu projeto dos livros afundado em dívidas e gerador de poucas vendas.

Em paralelo, acompanhamos a conturbada vida sentimental de Blu, que a certa altura da trama vive uma noite memorável com um misterioso rapaz, a quem apelida de Gatsby, pois até o nome do sujeito ela desconhece por completo.

Apercebendo-se do seu jeito para aconselhar livros às leitoras e leitores que visitam o seu espaço, é graças à ajuda de quatro amigas, com quem convive e divide as despesas no apartamento onde residem, que Blu renova o conceito do seu negócio: equiparar os livros a uma espécie de medicamentos, como se se tratassem de antídotos para a cura de algumas maleitas, acompanhados por uma prescrição literária para a insegurança, a depressão, a solidão, a apatia, os desgostos amorosos ou até mesmo o receio da mudança.

Ao longo da narrativa podemos encontrar (ainda que escassas) algumas descrições dos pressupostos e dos benefícios associados à biblioterapia: «A tese principal em que se baseia a biblioterapia é que a leitura de romances é geradora de empatia. A leitura de uma palavra (...) um verbo (...) ativa no cérebro os mesmos estados mentais que seriam ativados se aquela ação fosse de facto realizada.»; «Ler é encarado, fundamentalmente, como uma simulação do real.»; « (...) está provado que a leitura dos livros estimula a esfera cognitiva e afetiva de um indivíduo.»

Um livro que aborda temáticas atuais, que tece alguns comentários irónicos ao mundo editorial, com algumas passagens mais humorísticas. Uma escrita acessível, uma leitura leve e descontraída, apropriada para aqueles momentos em que atravessamos uma ressaca literária. São lançadas algumas pistas, como nos contos policiais. O final é inesperado.

Como não podia deixar de ser (e este é um dos pontos mais positivos), ao longo da narrativa e na fase final do livro, são feitas referências a alguns livros e nomes com destaque relevante na literatura (enumerados por nenhuma ordem em concreto): Clarissa Pinkola Estés, F. S. Fitzgerald, David Grossman, Virginia Woolf, Edgar Allan Poe, Luis Sepúlveda, Stephen King, Agatha Christie, Jane Austen, Gabriel García Márquez.

Deixo um agradecimento especial à @obsessoesliterarias (podem procurar a página dela no Instagram), pois foi ela a responsável por me apresentar este livro mimoso e divertido!

Susana Barão

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