Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2023

Somos o esquecimento que seremos, de Héctor Abad Faciolince

Imagem
DA ESCRITA DAS MEMÓRIAS PARA EVITAR O ESQUECIMENTO DE QUEM FOI VÍTIMA DA INJUSTIÇA E DA VIOLÊNCIA Só mais tarde olharei para eles: um, é a lista dos ameaçados de morte, uma fotocópia, e o outro, o «Epitáfio» de Borges copiado com o seu punho e letra, salpicado de sangue: «Já somos o esquecimento que seremos.» (p. 300) Em 25 de agosto de 1987, na cidade de Medellín, Héctor Abad Gómez, pai do escritor, é assassinado por paramilitares. Decorridos mais de vinte anos, Héctor Abad Faciolince decide escrever e publicar «Somos o esquecimento que seremos», um livro dedicado ao seu pai e às memórias de uma época conturbada e de crescente violência política na Colômbia dos anos setenta e oitenta. Seguindo uma ordem cronológica dos acontecimentos, ainda que o registo se apresente fragmentado, algo comum neste género literário, vamos conhecendo a infância e a adolescência do autor, assim como a sua família e a relação de grande proximidade (e, quiçá, de alguma dependência) com o seu progenit

Erros de Português nunca mais, de Analita Santos

Imagem
  PORQUE ESCREVER BEM EM PORTUGUÊS IMPLICA CONHECER E SABER USAR A NOSSA LÍNGUA São as palavras que nos aproximam ou afastam dos outros, por isso, é decisivo saber utilizá-las da forma mais apropriada possível. (p. 11) Conteúdo e forma. Escrever é isso: preocuparmo-nos com o conteúdo, as ideias que pretendemos transmitir, ao mesmo tempo em que procurarmos a melhor forma de o fazer. Aquando da redação de um livro, devemos ter presente a quem nos dirigimos, isto é, definir muito bem o nosso público-alvo. Em «Erros de Português nunca mais», a Analita Santos demonstra esse cuidado, desde a introdução, passando pelos seis capítulos que compõem este livro, até às últimas páginas (considerações finais). Os capítulos um, dois e três dedicam-se à forma: — No primeiro (e mais extenso), a autora apresenta, de A a Z, algumas subtilezas e erros comuns de quem fala e escreve em português padrão, tentando, em grande parte dos casos apresentados, ilustrar a correta utilização com trechos ex

A Malnascida, de Beatrice Salvioni

Imagem
  SOBRE AMIZADE E CORAGEM DE DUAS MENINAS NA ITÁLIA FASCISTA DOS ANOS TRINTA — As palavras são perigosas, se as disseres sem pensar. (p. 90) Os habitantes de Monza atribuíam a Malnascida (criança corajosa, obstinada e atenta ao contexto em que se encontrava inserida) a culpa pelas fatalidades daqueles que se aproximavam dela; porém, ela chamava-se Maddalena, sendo órfã de pai e a terceira de quatro irmãos da família Merlini, de origem humilde. Francesca, narradora e também protagonista desta narrativa, era uma menina italiana a entrar na puberdade, e oriunda de uma família burguesa cujo pai detinha uma fábrica que se dedicava à produção de chapéus. A mãe, nas suas palavras, «preferia-me bem-educada a instruída.» (p. 60); Maddalena, aos seus olhos, simbolizava a irreverência e a liberdade que lhe haviam vedado. Partindo de um ato de desobediência, nasce o primeiro contacto entre Francesca e Malnascida. Os principais acontecimentos do enredo ocorrem nas margens do rio Lambro, que

Os Vampiros, de Filipe Melo e Juan Cavia

Imagem
UMA NOVELA GRÁFICA SOBRE A GUERRA COLONIAL PORTUGUESA Os únicos vampiros aqui… somos nós. (p. 218) Inspirada numa das canções mais emblemáticas na luta contra o Estado Novo, «Os Vampiros», de Zeca Afonso (escrita nos anos 1960), serviu de inspiração a esta novela gráfica com argumento de Filipe Melo e ilustrações de Juan Cavia, que nos conta um episódio ocorrido durante a guerra colonial portuguesa numa das suas três frentes. Guiné, dezembro de 1972. Destacados para uma operação especial de reconhecimento, um pequeno grupo de militares portugueses, em plena véspera de Natal, atravessa a fronteira para o Senegal, em busca de uma da bases do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde). Esta narrativa, ainda que ficcionada, pretende traçar um retrato daquela que foi a realidade vivenciada por soldados pouco preparados para combater e defender o território de um povo que, há muito, pretendia conquistar a sua independência e deixar de se reger pelas regras da