A Malnascida, de Beatrice Salvioni


 SOBRE AMIZADE E CORAGEM DE DUAS MENINAS NA ITÁLIA FASCISTA DOS ANOS TRINTA

— As palavras são perigosas, se as disseres sem pensar. (p. 90)

Os habitantes de Monza atribuíam a Malnascida (criança corajosa, obstinada e atenta ao contexto em que se encontrava inserida) a culpa pelas fatalidades daqueles que se aproximavam dela; porém, ela chamava-se Maddalena, sendo órfã de pai e a terceira de quatro irmãos da família Merlini, de origem humilde.

Francesca, narradora e também protagonista desta narrativa, era uma menina italiana a entrar na puberdade, e oriunda de uma família burguesa cujo pai detinha uma fábrica que se dedicava à produção de chapéus. A mãe, nas suas palavras, «preferia-me bem-educada a instruída.» (p. 60); Maddalena, aos seus olhos, simbolizava a irreverência e a liberdade que lhe haviam vedado. Partindo de um ato de desobediência, nasce o primeiro contacto entre Francesca e Malnascida.

Os principais acontecimentos do enredo ocorrem nas margens do rio Lambro, que se torna palco de um incidente trágico que ligará para sempre estas duas crianças. Beatrice Salvioni marca pontos quando decide começar esta história recorrendo à técnica literária ‘in medias res’.

À medida que acompanhamos o desenrolar da relação entre estas duas meninas, que, aos poucos, se converte numa cumplicidade e amizade profundas, tomamos conhecimento, através de episódios do quotidiano destas e de outras personagens secundárias (o senhor e senhora Strada, pais de Francesca, e a família Colombo, que ostentava com orgulho a sua ideologia fascista) de como o regime de Mussolini na Itália dos anos 1930 dominava os modos e os costumes da população. O ponto de viragem no comportamento das protagonistas sucede aquando do início da guerra na Etiópia.

Apesar de reconhecer, em alguns pontos, semelhanças entre Beatrice Salvioni e Elena Ferrante, diria que se trata de uma visão redutora, na medida em que, no meu entender, este romance assume um cariz político/social muito mais vincado, ao centrar-se na opressão do regime fascista assim como na condição da mulher na sociedade italiana.

««A Malnascida» terá uma adaptação ao pequeno ecrã.

Susana Barão


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