Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2021

A Invenção Ocasional, de Elena Ferrante

Imagem
  «Porém, nas prosas escritas... prevaleceu o choque casual entre o tema proposto pela redacção e a urgência da escrita.» Entre janeiro de 2018 e 2019, Elena Ferrante, pseudónimo da escritora italiana contemporânea e autora da obra Tetralogia Napolitana, publicou no jornal britânico The Guardian cinquenta e um textos. Com estas crónicas, e para quem já leu os romances publicados por Ferrante, o leitor tem a oportunidade de conhecer um pouco a pessoa por detrás dos livros, sobre o que pensa acerca de determinados temas. São abordadas questões como a amizade e o amor, a maternidade, a condição da mulher e a importância do feminismo em particular na literatura, a relação da autora com o ofício da escrita; sobre este último tópico, aproveito para partilhar alguns dos excertos que mais apreciei: «Não se adia a escrita para quando tivermos vivido o bastante, lido o suficiente …  depois de nos termos exposto a experiências extremas … »; «Publicar, sim, isso pode adiar-se com certeza, pode at

A Morte de Ivan Ilitch, de Lev Tolstoi

Imagem
  «Senhores! — disse ele. — Ivan Ilitch morreu.» Através de um livro com menos de cem páginas, Lev Tolstoi aborda com maestria a problemática em torno da morte. Esta narrativa, contada na terceira pessoa, decorre no seio da alta sociedade russa do século XIX, onde o leitor ficará a conhecer o percurso da personagem Ivan Ilitch, um juiz desembargador de profissão com quarenta e cinco anos, que tudo faz para levar uma vida fácil, agradável, alegre e sempre decente aos olhos do meio onde se encontra inserido. Ivan Ilitch era respeitado pelos seus pares e apreciava jogar vint ao serão. Casado, pai de um casal — uma filha, noiva de um juiz de instrução, e um filho jovem a frequentar o liceu — e detentor de uma casa decorada a seu gosto, sofre um acidente no seu lar, que lhe provoca uma equimose. É a partir deste episódio que assistimos ao sofrimento diário de Ivan Ilitch, ao longo de várias semanas. O seu caso é analisado por vários médicos, sem que nenhum chegue a qualquer tipo de

Uma Escuridão Bonita, de Ondjaki

Imagem
  «Era verdade, tínhamos tempo. A falta de luz também inventava mais tempo para as pessoas estarem juntas, devagar.» É assim, neste ambiente sem luz elétrica, que Ondjaki conta-nos uma bonita história entre dois jovens sentados na varanda da avó Dezanove , na escuridão da noite, que entre aproximações e hesitações descobrem juntos a magia do primeiro beijo. Pela voz do protagonista, é abordada a importância da comunicação através de gestos, para além da fala — o toque de mãos —, onde encontramos personagens inseridas no meio de mosquitos e calor, num ambiente tropical. Recorrendo a uma narrativa curta, o autor tece, de modo inteligente, considerações sobre assuntos complexos como a guerra, a morte ou a discriminação: «... como se o nosso mundo, por alguns instantes, pudesse ser assim — sem tom de cor ou distração de forma.» Escrito de forma brilhante, somos transportados para o mundo da infância/adolescência, numa prosa poética pautada por diálogos desenhados com mestria: «