A Morte de Ivan Ilitch, de Lev Tolstoi

 

«Senhores! — disse ele. — Ivan Ilitch morreu.»

Através de um livro com menos de cem páginas, Lev Tolstoi aborda com maestria a problemática em torno da morte.

Esta narrativa, contada na terceira pessoa, decorre no seio da alta sociedade russa do século XIX, onde o leitor ficará a conhecer o percurso da personagem Ivan Ilitch, um juiz desembargador de profissão com quarenta e cinco anos, que tudo faz para levar uma vida fácil, agradável, alegre e sempre decente aos olhos do meio onde se encontra inserido.

Ivan Ilitch era respeitado pelos seus pares e apreciava jogar vint ao serão. Casado, pai de um casal — uma filha, noiva de um juiz de instrução, e um filho jovem a frequentar o liceu — e detentor de uma casa decorada a seu gosto, sofre um acidente no seu lar, que lhe provoca uma equimose.

É a partir deste episódio que assistimos ao sofrimento diário de Ivan Ilitch, ao longo de várias semanas. O seu caso é analisado por vários médicos, sem que nenhum chegue a qualquer tipo de conclusão sobre a doença de que padece. A definhar gradualmente, apenas a morfina e o ópio parecem amenizar a dor física; já a psicológica, porém, aumenta de dia para dia, questionando-se até que ponto havia tomado as melhores decisões para a sua vida: «Talvez não tenha vivido como devia?»; «Mas como, se fiz tudo como deve ser.?»

A hipocrisia dos bons costumes da época, inclusive da própria família, leva Ivan Ilitch a vivenciar um profundo sentimento de solidão, apenas atenuado de forma ligeira pelo seu filho e um dos empregados, de quem é alvo de compaixão e compreensão.

Exímio contador de histórias, Lev Tolstoi consegue, de forma magnífica, sem recorrer a uma linguagem complicada, descrever a complexidade das relações e da condição humana, mais precisamente, em torno da finitude da vida por meio do sofrimento de um homem. 

Esta foi a minha primeira experiência com um livro da literatura russa e, de certo modo, um estágio para aquilo que me espera da leitura que irei fazer do próximo livro deste autor: Anna Karénina.

Susana Barão


Comentários

  1. Uma boa introdução à obra de Tolstoi, com um tema certamente difícil de abordar: o sentido da vida. Obrigada, Susana, por esta cuidada apresentação. Fiquei com curiosidade de ler também esta obra.

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  2. Obrigada, Teresa! Fico contente por teres ficado curiosa em ler este pequeno grande livro =)

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