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A mostrar mensagens de junho, 2021

A Noiva do Tradutor, de João Reis

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  Por fim, levanto-me e vou até à janela: ar fresco. Assim que terminei o livro, consegui voltar a respirar. É o cheiro a enxofre, a estrume, a urina, a alcatrão, a queimado …  é a imundice dos lugares, das gentes, dos costumes que se acercam deste tradutor rezingão, que reclama de tudo e de todos, menos da sua Helena, a noiva, que parte num navio, deixando o nosso protagonista desolado, embriagado pelo sentimento da saudade. Ao mergulhar nesta história, o leitor é convidado a colar-se que nem uma lapa ao tradutor, ficando preso aos seus passos, aos locais por onde vagueia e se desloca, às pessoas com quem se cruza, aos pensamentos que o acompanham neste percurso com a duração de dois dias, numa cidade e numa época que desconhecemos; porém, se pudesse escolher, diria que estamos perante uma Lisboa do início do século XX. São os editores interesseiros e forretas a tirarem-lhe o tapete e a não honrarem os seus compromissos, são os falsos amigos que pretendem, a qualquer custo, ganhar

O Amante, de Marguerite Duras

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    «Penso frequentemente nesta imagem que sou a única a ver ainda e de que nunca falei. Está sempre aí no mesmo silêncio, deslumbrante. É, de todas, a que me agrada a mim própria, onde me reconheço, onde me encanto.» É através desta intrigante construção de frases que nos é contada esta história, em tom autobiográfico, onde a narração é feita, de modo intercalado, na primeira e na terceira pessoa. Passado no início do século XX, num ambiente de clima equatorial, este livro retrata o romance condenado entre uma adolescente de quinze anos e um homem com quase o dobro da sua idade. Para acentuar as diferenças, ela é branca, de ascendência francesa, inserida numa família devastada pela ruína, usa um vestido de seda antigo, sapatos de salto alto de lamé dourado e um chapéu de homem feito de feltro com uma fita preta; ele é chinês, provém de uma família abastada, utiliza um «fato de seda claro dos banqueiros de Saigão» (Cidade de Ho Chi Minh é o nome atual), tem medo, sente-se intimidado na

Segredos Obscuros, de Michael Hjorth e Hans Rosenfeldt

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«O HOMEM não era um assassino. Repetia isso para consigo enquanto arrastava o rapaz morto pela ladeira abaixo: Eu não sou um assassino .» Esta é a expressão recorrente que podemos encontrar no livro Segredos Obscuros . Tratando-se de um thriller policial sueco, este é o primeiro volume dos seis já publicados da Série Sebastian Bergman. Sebastian Bergman é psicólogo forense, sendo considerado pela polícia como um dos melhores especialistas a traçar o perfil comportamental dos assassinos em série. Atravessando um momento sombrio da sua vida — perdera a mulher e a filha no tsunami ocorrido a 26 de dezembro de 2004 —, Sebastian vê os seus dias, sem objetivos, preenchidos por acontecimentos fortuitos que nada acrescentam à sua existência. É então que a morte da sua mãe o leva a viajar de Estocolmo até à cidade de Västerås, onde havia ocorrido um incidente macabro, selvagem: fora encontrado na floresta, por um grupo de escuteiros, o corpo de um rapaz de dezasseis anos, a quem havia sid