A Invenção Ocasional, de Elena Ferrante

 

«Porém, nas prosas escritas... prevaleceu o choque casual entre o tema proposto pela redacção e a urgência da escrita.»

Entre janeiro de 2018 e 2019, Elena Ferrante, pseudónimo da escritora italiana contemporânea e autora da obra Tetralogia Napolitana, publicou no jornal britânico The Guardian cinquenta e um textos.

Com estas crónicas, e para quem já leu os romances publicados por Ferrante, o leitor tem a oportunidade de conhecer um pouco a pessoa por detrás dos livros, sobre o que pensa acerca de determinados temas.

São abordadas questões como a amizade e o amor, a maternidade, a condição da mulher e a importância do feminismo em particular na literatura, a relação da autora com o ofício da escrita; sobre este último tópico, aproveito para partilhar alguns dos excertos que mais apreciei: «Não se adia a escrita para quando tivermos vivido o bastante, lido o suficiente depois de nos termos exposto a experiências extremas»; «Publicar, sim, isso pode adiar-se com certeza, pode até decidir-se não publicar.»

Encontramos ainda ao longo desta compilação considerações sobre a política, as alterações climáticas, o motivo pelo qual a autora apenas concede entrevistas por meio de comunicação escrita, assim como a sua visão acerca da passagem dos seus livros para o pequeno e o grande ecrã.

Através de uma escrita crua e complexa, mas que não deixa de ser extremamente sensível, Elena Ferrante procura com as palavras descrever todas as nuances, áreas cinzentas que caracterizam a condição humana.

A existência de um único parágrafo para cada crónica, a presença de algumas gralhas (sobretudo a nível de pontuação), bem como o facto de — ao contrário do que sucede com os livros de ficção publicados pela editora —, a redação dos textos não ter sido feita de acordo com o novo acordo ortográfico, são alguns dos aspetos que gostaria de ver melhorados numa próxima edição deste livro.

Para terminar, todos os textos são acompanhados pela presença de ilustrações muito bonitas e pertinentes da autoria de Andrea Ucini.

Susana Barão


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