As Moscas de Outono, de Irène Némirovsky

 

Eles iam, vinham, de um muro ao outro, silenciosamente, como as moscas de Outono, quando o calor, a luz e o verão aparecem, voam penosamente, exaustas e arreliadas, contra os vidros, arrastando as asas mortas. (p. 52)

De uma vida de ostentação até à decadência material e dos costumes. A imagem invocada pela citação acima remete-nos para um sentimento de indiferença e da perda de um propósito.

Esta história inicia-se e termina na véspera da mesma data festiva. Há um paralelismo que se estabelece, diferenças e semelhanças que se acentuam. Tudo mudou para a família Karine, que, na sequência da Revolução Russa, iniciada em 1917, se vê obrigada, um ano depois, a fugir da sua casa, refugiando-se, mais tarde, num modesto e precário apartamento em Paris.

Para trás, e a cuidar da propriedade e dos pertences desta família da alta nobreza, ficou Tatiana Ivanovna, cuidadora de duas gerações dos Karine e uma empregada fiel e disponível para os seus pedidos. Mulher rija e devota a Deus, apesar da sua capacidade de sobrevivência às adversidades, permanecia saudosa, com dificuldade em abandonar o seu passado. Depois de assistir à violência cometida sobre aqueles a quem sempre se dedicou, rever a neve tornou-se num desejo que alimentou os seus últimos dias.

Em «As Moscas de Outono», Irène Némirovsky apresenta uma escrita limpa e inteligente, sendo eficaz no modo como tece críticas à degradação moral de uma classe social em declínio, apenas por meio da confrontação das personagens e da análise psicológica às suas características e fá-lo de forma exímia através dos diálogos.

Susana Barão

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