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A mostrar mensagens de novembro, 2023

Um Detalhe Menor, de Adania Shibli

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  DUAS PERSPETIVAS NARRADAS EM DIFERENTES RITMOS SOBRE UM MESMO ACONTECIMENTO De facto, há uma propensão, possivelmente instintiva, para o indivíduo acreditar na sua própria singularidade, para encarar a vida que leva como algo tão importante que só pode amá-la e amar tudo o que lhe diz respeito. (p. 81) O agravamento do conflito no Médio Oriente e o adiamento, por tempo indeterminado, da entrega do prémio LiBeraturpreis à escritora palestiniana Adania Shibli levaram-me a organizar um pequeno grupo de leitura conjunta de «Um Detalhe Menor», editado em março de 2022 pela @domquixoteeditora e traduzido do árabe por Hugo Mata. Ainda que ficcionada, a história deste livro baseia-se num trágico acontecimento ocorrido um ano depois da Nakba, com a expulsão dos palestinianos das suas aldeias e da criação do Estado de Israel. A narrativa divide-se em duas: na primeira, contada na terceira pessoa do singular e pela perspetiva do invasor, acompanhamos a jornada diária de um comandante i

Sempre Vivemos no Castelo, de Shirley Jackson

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DE UMA HISTÓRIA INTRINCADA, COM VESTÍGIOS DA NARRATIVA DE EDGAR ALLAN POE Eu já sabia que ele era um dos maus; vira o seu rosto por instantes e ele era um dos maus, aqueles que dão a volta à casa, a tentar entrar, a olhar pelas janelas, a puxar e a espreitar e a roubar recordações. (p. 69) Tratando-se do último romance publicado pela escritora norte-americana Shirley Jackson, «Sempre Vivemos no Castelo» conta-nos a história dos Blackwood pela voz de Mary Katherine — ou Merricat, como Connie, a irmã mais velha, apelida de forma carinhosa —, uma jovem de dezoito anos que residira num orfanato aquando do julgamento de Constance, acusada de assassinar a família por envenenamento durante o jantar e que, entretanto, havia sido ilibada. As duas irmãs, ostracizadas pelos habitantes de uma aldeia próxima, residem «enclausuradas» na grande casa dos Blackwood, juntamente com o tio Julian, inválido e dependente de cuidados de terceiros, e do gato Jonas, companheiro de aventuras de Merricat.

Lucy à beira-mar, de Elizabeth Strout

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  DAS RELAÇÕES DURANTE O CONFINAMENTO AO TÉRMINO DE UMA JORNADA  A questão é: se tivermos sorte, tocamos noutra pessoa. Mas afastamo-nos sempre depois do toque, pelo menos um bocadinho. (p. 180) A aparente simplicidade e sensibilidade na escrita, aliada a um conhecimento profundo na abordagem dos relacionamentos — entre mãe e filha, entre irmãs e irmãos, entre (ex-)marido e (ex-)mulher —, mantém-se neste quarto e último livro da tetralogia Amgash. Ainda que se trate de uma história ficcional, este volume distingue-se dos outros três pela atualidade dos relatos mencionados. A narrativa decorre em plena pandemia Covid-19, entre março de 2020 e abril de 2021; William, cientista de profissão e antecipando o cenário negro que se avizinhava, convence Lucy a abandonar o seu apartamento em Nova Iorque, e ambos viajam para uma pequena localidade no Maine, alojando-se numa casa situada num penhasco e com vista para o mar. Do estranho ao familiar, e na continuidade da aproximação que haviam feit