Um Detalhe Menor, de Adania Shibli

 

DUAS PERSPETIVAS NARRADAS EM DIFERENTES RITMOS SOBRE UM MESMO ACONTECIMENTO

De facto, há uma propensão, possivelmente instintiva, para o indivíduo acreditar na sua própria singularidade, para encarar a vida que leva como algo tão importante que só pode amá-la e amar tudo o que lhe diz respeito. (p. 81)

O agravamento do conflito no Médio Oriente e o adiamento, por tempo indeterminado, da entrega do prémio LiBeraturpreis à escritora palestiniana Adania Shibli levaram-me a organizar um pequeno grupo de leitura conjunta de «Um Detalhe Menor», editado em março de 2022 pela @domquixoteeditora e traduzido do árabe por Hugo Mata.

Ainda que ficcionada, a história deste livro baseia-se num trágico acontecimento ocorrido um ano depois da Nakba, com a expulsão dos palestinianos das suas aldeias e da criação do Estado de Israel.

A narrativa divide-se em duas: na primeira, contada na terceira pessoa do singular e pela perspetiva do invasor, acompanhamos a jornada diária de um comandante israelita que efetuava, em agosto de 1949, patrulhas no deserto de Negueve; na segunda, possivelmente em 2003, narradora e protagonista fundem-se numa só entidade uma jovem investigadora palestiniana a viver em Ramallah toma conhecimento de um artigo que relata um «incidente» ocorrido vinte e cinco anos depois do seu nascimento, sendo este o «detalhe» determinante na sua decisão de embarcar numa viagem que a fará sair da zona a que estava afeta.

A escrita de Adania Shibli privilegia o uso de descrições e o hábil recurso à concatenação. Dos cinco sentidos, o olfato e a audição foram aqueles que mais me marcaram, conferindo um grande realismo aos cenários retratados.

A primeira parte, apesar de se encontrar organizada em pequenos capítulos, apresenta um ritmo de leitura mais lento quando comparado com a segunda parte, que se lê rápido e quase sem pausas, não obstante os poucos parágrafos e da mancha gráfica mais densa.

Costumas ler livros sobre esta temática, mesmo que possam causar angústia e desconforto?

Susana Barão


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