Lucy à beira-mar, de Elizabeth Strout
DAS RELAÇÕES DURANTE O CONFINAMENTO AO TÉRMINO DE UMA JORNADA
A questão é: se tivermos sorte, tocamos noutra pessoa. Mas afastamo-nos sempre depois do toque, pelo menos um bocadinho. (p. 180)
A aparente simplicidade e sensibilidade na escrita, aliada a um conhecimento profundo na abordagem dos relacionamentos — entre mãe e filha, entre irmãs e irmãos, entre (ex-)marido e (ex-)mulher —, mantém-se neste quarto e último livro da tetralogia Amgash.
Ainda que se trate de uma história ficcional, este volume distingue-se dos outros três pela atualidade dos relatos mencionados. A narrativa decorre em plena pandemia Covid-19, entre março de 2020 e abril de 2021; William, cientista de profissão e antecipando o cenário negro que se avizinhava, convence Lucy a abandonar o seu apartamento em Nova Iorque, e ambos viajam para uma pequena localidade no Maine, alojando-se numa casa situada num penhasco e com vista para o mar.
Do
estranho ao familiar, e na continuidade da aproximação que haviam feito no
terceiro volume, Lucy e William, apesar de acompanhados, continuam sozinhos a
enfrentar os seus medos, receios e arrependimentos de um passado turbulento e
carregado de mágoas. Num constante jogo de pingue-pongue, ora aproximam-se, ora
afastam-se; depois, os entendimentos vão surgindo, a cumplicidade conquista
espaço, em prol de segurança, compreensão, carinho… e também do amor que
(ainda) poderão nutrir um pelo outro?
A leitura de «Lucy à beira-mar» revelou-se numa experiência bastante imersiva, talvez por se situar numa época da qual persistem memórias muito presentes do que foi viver em confinamento e de como isso mudou, de forma irreversível, o modo como encaramos o quotidiano e o nosso relacionamento com os outros.
As personagens de Elizabeth Strout são tão palpáveis e reais, assim como as dinâmicas que se estabelecem, que se torna difícil despedirmo-nos delas, pois a vontade de querermos continuar a saber mais sobre o destino de cada uma permanece.
Para os fãs de Elisabeth Strout: qual a tua protagonista
preferida? A Lucy ou a Olive?
Susana Barão
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