Sempre Vivemos no Castelo, de Shirley Jackson

DE UMA HISTÓRIA INTRINCADA, COM VESTÍGIOS DA NARRATIVA DE EDGAR ALLAN POE

Eu já sabia que ele era um dos maus; vira o seu rosto por instantes e ele era um dos maus, aqueles que dão a volta à casa, a tentar entrar, a olhar pelas janelas, a puxar e a espreitar e a roubar recordações. (p. 69)

Tratando-se do último romance publicado pela escritora norte-americana Shirley Jackson, «Sempre Vivemos no Castelo» conta-nos a história dos Blackwood pela voz de Mary Katherine — ou Merricat, como Connie, a irmã mais velha, apelida de forma carinhosa —, uma jovem de dezoito anos que residira num orfanato aquando do julgamento de Constance, acusada de assassinar a família por envenenamento durante o jantar e que, entretanto, havia sido ilibada.

As duas irmãs, ostracizadas pelos habitantes de uma aldeia próxima, residem «enclausuradas» na grande casa dos Blackwood, juntamente com o tio Julian, inválido e dependente de cuidados de terceiros, e do gato Jonas, companheiro de aventuras de Merricat. A aparente tranquilidade em que vivem quebra-se com a visita do primo Charles. Afinal, quem matou os outros elementos da família?

Um terror «suave» que se transforma numa narrativa de suspense, a par do que sucede com alguns contos de Edgar Allan Poe, o precursor do género policial. Em relação à escrita, destaco o recurso de linguagem denominado polissíndeto, pelo emprego repetitivo da conjunção «e» nas frases, além de uma utilização inteligente de adjetivos.

É um livro macabro sem ser gráfico; bizarro sem perder a coerência da essência de cada uma das duas personagens: Mary Katherine, que gosta de viver na Lua e encontra proteção em palavras mágicas e nos objetos que enterra; Constance, que assume um comportamento obsessivo-compulsivo e controlador no que toca a limpezas e arrumações do seu «castelo» e àqueles de quem cuida — a irmã e o tio.

Apesar de nunca mencionado, crê-se que o enredo se desenrola no início da segunda metade do século XX. As descrições pormenorizadas, assim como a abundância de diálogos, contribuem para uma experiência de leitura absorvente.

Costumas ler livros de terror?

Susana Barão


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