A Bailarina de Auschwitz, de Edith Eger
Um relato de memórias, autobiográfico. A Bailarina de Auschwitz é o testemunho de vida de Edith Edger — célebre psicóloga de noventa e três anos, personagem principal e autora deste livro —, que se estende para além da experiência traumática do Holocausto, que é o ponto de partida para o desenvolvimento desta inquietante, e simultaneamente, inspiradora narrativa.
Narrada na primeira pessoa, em jeito de diário, acompanhamos todo o percurso de Edith, desde o momento em que ela (apenas com dezasseis anos) e a sua família são enviadas para Auschwitz. Toda a história é pautada por descrições que nos impressionam: O momento em que Edith, na sua primeira noite no campo de concentração, é obrigada a dançar para o hediondo médico Josef Mengele, o conhecido Anjo da Morte; o episódio desconcertante dos M&M's, quando Edith e a sua irmã Magda são resgatadas por soldados americanos; a viagem de autocarro em Baltimore (aquando da imigração para os Estados Unidos), numa alusão clarividente da perturbação de stress pós-traumático.
Para sobreviver a estes atos de gradual desumanização, Edith mergulha num mundo paralelo na sua mente, num processo dissociativo, um mecanismo de defesa (de acordo com algumas pesquisas) utilizado por pessoas brutalmente violentadas nos seus direitos. Com efeito, nas palavras de Edith, logo nas primeiras páginas deste livro, pode ler-se o seguinte: «A minha própria busca pela liberdade e os meus anos de experiência como psicóloga licenciada ensinaram-me que o sofrimento é universal. Mas o vitimismo é opcional. Há uma diferença entre vitimização e vitimismo.»
Na qualidade de sobrevivente e imigrante num país e continente diferentes, Edith debate-se com diversas dificuldades, entre elas a aprendizagem da língua. Mãe de três filhos, é depois dos quarenta que se forma em psicologia. À medida que se vai especializando, Edith relata-nos episódios de consultas com os seus pacientes, onde evidencia não só as estratégias de prática clínica que utiliza para os ajudar na sua recuperação, como também o contributo de todos para o seu próprio processo de cura.
Sem esquecer as referências à amizade entre Edith e Viktor Frankl (autor do livro O Homem em Busca de Um Sentido), esta é uma reflexão profunda e absorvente, sem se tornar exaustiva, mas demonstrando, sobretudo, uma grande sabedoria, sobre a importância das crenças, dos sentimentos e das emoções no processamento de acontecimentos traumáticos. Sobre o significado de perdoar, de assumirmos responsabilidade por nós mesmos, para criarmos e descobrirmos um sentido para as nossas vidas. E, por fim, para que os horrores não se repitam é preciso contar sempre a História.
Susana Barão
Se o título me seduzia, com esta apresentação fiquei mesmo com vontade de ler este livro. Parabéns pela forma emotiva e cativante como nos conduzes através do enredo do livro, motivando à sua leitura.
ResponderEliminarErmelinda, muito obrigada pelas tuas palavras! Boas leituras, =)
ResponderEliminarO título deste livro engana tanto. Foi uma das minhas melhores leituras de 2020. Edith é uma verdadeira fonte de inspiração. Gostei particularmente da parte final, em que ela aborda um pouco a sua profissão. Boas leituras.
ResponderEliminarEm relação ao nome do livro concordo plenamente contigo, pensei o mesmo: possivelmente uma estratégia de marketing, para potenciar a venda. Foi também uma leitura minha de 2020. Tenho imensas frases sublinhas. Tal como tu, considero que a Edith Eger é um poço de inspiração. Continuação de boas leituras, =)
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