Morreste-me e Regresso a Casa, de José Luís Peixoto

 


No âmbito do projeto Ler os Vencedores do Prémio José Saramago no decorrer do ano 2021, lançado na comunidade Instagram pelo Álvaro e o Ludgero, detentores da página @literacidades, partilho convosco dois pequenos grandes livros de José Luís Peixoto, o autor escolhido para o mês de janeiro.

Morreste-me é o livro de estreia do escritor no mundo literário, publicado inicialmente em edição de autor no ano 2000. Através de textos divulgados pela primeira vez no extinto suplemento DN Jovem, entre 1996 e 1997, José Luís Peixoto dedica as suas palavras à memória do seu pai. Conta-nos, sob o efeito de uma constante emoção, as idas ao hospital, a evolução da doença, a relação entre pai e filho, a tristeza, a dor, as saudades que entranham fundo no corpo e na alma. «Abri-o e, com as minhas letras infantis, sobre linhas feitas com uma régua, li: Amo o meu pai,/ Amo o meu paizinho,/ Não tenho mais para te dar,/ Dou-te o meu carinho. E chorei. Passei a noite sozinho. Contigo. Perto do silêncio absoluto.» É impossível ficar-se indiferente ao sofrimento manifesto nestas páginas, ao sentimento de ternura e amor com que estas experiências são relatadas.

Regresso a Casa é o mais recente livro de poemas do autor. São abordados temas como o quotidiano, o período do primeiro confinamento devido à pandemia de Covid-19, a família, as memórias, não esquecendo Galveias (a sua terra natal), passando por Oeiras (o concelho onde reside). Sempre de modo intimista, o leitor é, também, levado numa viagem poética pelo continente asiático: à China, passando pela cidade de Pequim; à Tailândia, onde entramos na aldeia da tribo Mlabri; à Coreia do Norte, onde conhecemos o rio Taedong. Por fim, nos últimos poemas, somos convidados a revisitar algumas das suas obras: Uma Casa na Escuridão, Abraço ou Autobiografia. Um livro que termina com o título do seu mais recente romance: «Afinal, havia amigos. Havia toda esta família que me olha e que olho. Aqui estou de novo. Pronto para o almoço de domingo.»

Por meio destas duas leituras apercebi-me que, além de ser notória uma enorme sensibilidade na escrita de José Luís Peixoto, há uma tendência para a repetição de palavras no desenvolvimento de uma ideia. Ficou a vontade de ler uma narrativa mais extensa, em prosa, para conhecer em detalhe esta forma dele se expressar, captando assim a minha atenção para a sua voz literária.

Susana Barão

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