A Praia de Noite, de Elena Ferrante

 

Como fã assumida da escrita de Elena Ferrante, e depois de ter adquirido todos os livros publicados em Portugal pela autora, eis que chegou a vez de ler «A Praia de Noite», um livro destinado ao público mais novo e que é acompanhado por ilustrações belíssimas de Mara Cerri.

Mati é uma menina de cinco anos que possui uma boneca chamada Celina. Numa das suas idas à praia, Mati recebe de presente do pai um gato preto e branco — o Minú. Entusiasmada com o seu novo amigo, Mati, ao sair da praia, esquece-se da sua boneca, que fica enterrada na areia.

Sentindo-se perdida, abandonada e com medo, é pela voz de Celina que iremos conhecer os desafios que terá de enfrentar. O fogo e o mar são apenas alguns dos obstáculos com que a boneca será confrontada. Mas para quem já está assustado/a, descansem: o final é feliz, pois este é um livro (supostamente) escrito para crianças.

Trata-se de um conto sombrio, contado em jeito de pesadelo, cujo registo a que Ferrante habituou os leitores mantém-se presente por meio de uma escrita crua, colocando o dedo na ferida aos sentimentos e às emoções menos boas que todos, mais novos e mais velhos, experienciam ao longo da sua vida.

Ainda que reconheça a importância de se sensibilizar o público infantil para temáticas menos bonitas e mais pesadas, até que ponto podem ir os contos de fadas?

Ao refletir sobre esta questão, comecei a pensar nas histórias da nossa infância e que fazem parte do património comum — o Capuchinho Vermelho, a Bela Adormecida ou a Pequena Sereia —, cujas primeiras versões estavam imersas em contornos bastante macabros.

Que livros podemos ler com os mais novos? Até onde os devemos proteger, sem esquecer de os preparar para o mundo em que vivemos?

Susana Barão


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