Suspense ou a Arte da Ficção, de Patricia Highsmith

 


«Esta obra não consiste num manual de instruções. Explicar como se escreve um livro bem-sucedido — ou seja, bom de ler — é impossível. Mas é isso que torna a escrita uma profissão viva e empolgante, a omnipresente possibilidade de fracasso.»

Foi na adolescência, por volta dos meus quinze, dezasseis anos, que conheci a escrita de Patricia Highsmith através dos livros «O Talentoso Mr. Ripley» e o «Amigo Americano (Ripley’s game na versão original). Posso dizer-vos, com segurança, que Tom Ripley é daqueles anti-heróis que dificilmente se esquece, tal é a qualidade na construção desta personagem.

Sendo eu uma curiosa pelo ofício da escrita, procurei neste ensaio saber e, em muitos casos, confirmar, aquelas que são as principais dicas/diretrizes a reter para quem ambiciona escrever ficção.

Tratando-se de um livro escrito no século XX, na década de sessenta, é curioso como muito do que a autora partilha com o(a) leitor(a) se mantém atual. A título de exemplo, na ótica de Highsmith, ela refere alguns dos seguintes aspetos: ainda que a primeira pessoa a agradar deva ser o/a autor(a), há que ter sempre presente a preocupação para com o público-alvo, em entreter ao contar uma boa história; as dificuldades económicas da maioria dos(as) escritores(as), pela necessidade de se ter um segundo emprego para pagar contas; as rejeições dos manuscritos pelas editoras; a reescrita e a revisão do livro até à sua publicação; a importância do trabalho de promoção — «... dos esforços de divulgação que um escritor tem de empreender, pois nem sempre há um agente literário que os faça por si.»

Iniciando pela «semente da ideia», passando pelas experiências pessoais e vividas por outros(as), até à construção do enredo, das personagens e ao planeamento do desenvolvimento, são questões abordadas pela escritora. Mais do que discorrer sobre estes aspetos aparentemente teóricos e abstratos, o que torna esta obra interessante e justifica o seu destaque é o facto de tudo o que é partilhado estar ilustrado com exemplos dos livros publicados pela autora, culminando com a apresentação de um caso prático com o livro «A Cela de Vidro».

Recorrendo a uma linguagem clara, sem floreados, e organizado de forma apelativa, Patricia Highsmith apresenta-nos o seu processo criativo e a importância de preservarmos a nossa unicidade — tal como as impressões digitais —, naquilo a que nos propomos escrever.

Susana Barão

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