Até os Comboios Andam aos Saltos, de Célia Correia Loureiro

 

«Depois, premindo o botão para a descarga de fentanil, olhou para a televisão acesa num canal sensacionalista e fitou a destruição e a fumarada do descarrilamento de um comboio. Arrepiei-me ao ouvi-lo exclamar: — Ena pá, até os comboios andam aos saltos.»

Um livro que é uma edição de autor. Um livro que, segundo a @celiacorreialoureiro, suscitou o interesse por parte de uma editora tradicional. Contudo, a autora optou por não seguir esse caminho. Os motivos podemos encontrá-los lendo esta narrativa.

Como ser, como agir perante os outros, perante a vida, quando os responsáveis pela nossa existência traem a nossa confiança? Os relatos são duros, crus, por vezes cruéis, sem filtros. As vivências que nos são contadas, em jeito diarístico pela narradora-protagonista, revelam uma tremenda densidade emocional: as relações disfuncionais com os progenitores, a problemática da adição, as doenças — o cancro.

E tudo isto — e mais algumas peripécias — começa a ser escrito, com recurso a um lápis e a um bloco de notas, no aeroporto de Barajas (Madrid) pela nossa personagem sem nome. Trata-se de autoficção? Memórias condimentadas com vivências reais e outras oriundas da imaginação. Existem algumas passagens mais difusas, alguns hiatos temporais mais difíceis de interligar, porém, nada que retire mérito à experiência que é ler estas palavras. Em suma, se só pudesse descrever este livro com dois adjetivos, «profundo e «corajoso» seriam as minhas escolhas.

Um especial agradecimento à Silvana @pordetrasdaspalavras, amiga e parceira de leituras, que me desafiou a ler em conjunto esta obra da Célia Loureiro. 📚✍

E porque pretendo continuar a ler a obra já publicada desta autora, deixo-vos uma pergunta para ser respondida nos comentários: «Demência» ou «O Funeral da Nossa Mãe»? 👇😊

Susana Barão

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