No jardim do ogre, de Leïla Slimani

 

Na vida de Adèle uma mulher bonita e de trinta e cinco anos , tudo é um tédio: aborrece-se ao escrever artigos para a redação onde trabalha; não tem paciência para o convívio familiar; o filho, Lucien, ocupa-lhe muito tempo; Richard, o marido protetor e que é médico, não desconfia de nada, só pensa em largar o caos parisiense para se refugiar num casarão rústico.

«Sabes que mais, Adèle? És tão banal como todos nós. No dia em que aceitares isso, serás muito mais feliz.»

Assolada em sonhos, surge a vontade, não consegue controlar-se. É no envolvimento com outros homens que Adèle consegue encontrar alívio para a pulsão sexual que a domina. As suas ações têm apenas um propósito: encontrar forma de satisfazer um desejo que nunca cessa, mesmo que isso implique colocar-se em perigo, sujeitar-se a atos mais violentos, ultrapassar limites. No fim, apenas lhe resta o vazio, a vergonha. Voltar a sentir-se sozinha.

«Seja como for, já nem ouve. Está inquieta, amarga. Hoje, não consegue existir. () A única coisa a que almeja é ser desejada.»

Este é um retrato claro da problemática da adição sexual vivida na pele de uma mulher que sofre e não consegue criar verdadeiras relações de intimidade, principalmente, com aqueles que não quer perder: o filho e o marido.

Leïla Slimani, através de uma escrita direta, visceral e vertiginosa, incute um ritmo de leitura acelerado ainda que desconfortável, difícil e inquietante , levando-nos a percorrer uma espiral descendente (como se tivéssemos sido engolidos por um tornado), pela forma como explora os acontecimentos e as consequências subsequentes aquando da descoberta do segredo que é a vida de Adèle.

Erotismo é uma palavra que não tem lugar neste livro; é, antes, sobre dor, dependência, sobre uma mulher que não se alimenta, não conduz, não se cuida, que procura através da sexualidade um sentido para a sua existência. É, pois, alguém que «quer ser uma boneca no jardim de um ogre.»

Susana Barão

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