O Jogador, de Fiódor Dostoiévski

 

«Mas o prazer é sempre útil! E não será um prazer o abuso de poder?»

Roletenburgo (nome de cidade fictícia alemã), na segunda metade do século XIX. Precetor da família de um general viúvo e endividado, Aléxis Ivanovitch é um jovem russo de vinte e cinco anos que nutre uma paixão assolapada por Paulina, a enteada; esta, por sua vez, tem para com ele atitudes de zombaria e desprezo. Um dia, para deleite da amada e porque também ela se encontrava carente de dinheiro, Aléxis Ivanovitch toma o seu primeiro contacto com o jogo da roleta. E ganha. Novamente, Paulina pede-lhe que se dirija ao casino da cidade, mas desta vez Ivanovitch impõe algumas condições. E perde. Apostar os florins dos outros não o seduz.

Surge então em cena a matriarca da família: é a partir deste ponto da narrativa que Aléxis recebe o gatilho mental que lhe faltava para afundar-se na espiral de sucessivos ganhos e perdas que caracteriza a atuação daqueles que padecem do vício do jogo: «Algumas vezes até os números dançavam diante dos meus olhos () A boa sorte não me deixara. () Não posso dizer se alguma vez cheguei mesmo a pensar na Paulina.»

Fiódor Dostoiévski apresenta-nos um universo de personalidades, aparentemente, frívolas; porém, é sobretudo pelos diálogos extensos que somos confrontados com a densidade psicológica que caracteriza quase todas as personagens. São poucas aquelas que não sofrem uma transformação ao longo deste livro.

Uma história que nos revela os meandros mais recônditos da mente humana, contada na primeira pessoa e de teor autobiográfico: Fiódor Dostoiévski teve de escrever para saldar as suas dívidas ao jogo.

Esta foi a minha estreia com o autor e também uma leitura para o projeto #lerosrussos dinamizado pela Susana do perfil @fluxosliterarios

Digamos que foi o meu «estágio» para a próxima leitura que pretendo fazer do autor: «Crime e Castigo».

Susana Barão


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