leite e mel / o sol e as suas flores, de Rupi Kaur

 

Poemas? Não sei. Textos poéticos, poesia livre, contemporânea? Talvez. Um conjunto de textos; por vezes, apenas uma só frase. A escrita em letras minúsculas. Peculiar é também a forma de pontuar (ou a quase ausência destes sinais). Uma coisa é certa: quem lê as palavras de Rupi Kaur dificilmente fica indiferente aos sentimentos e emoções que elas são capazes de despertar. Viajar por «leite e mel» e pelo «o sol e as suas flores» é ler com os cincos sentidos.

Dotada de uma grande sensibilidade e capacidade de gerar empatia, Rupi transporta o(a) leitor(a) para dentro de si, até ao âmago dos seus pensamentos mais profundos. Num ato de coragem, despe-se de preconceitos, partilhando a sua intimidade.

Fazendo um paralelo com a fénix, a ave da mitologia grega que renasce das cinzas, ambos os livros seguem estruturas semelhantes: «leite e mel» organiza-se em quatro capítulos — a dor, o amor, a separação e a cura; já «o sol e as suas flores» divide-se por cinco capítulos — murchar, cair, criar raízes, crescer e florir.

Temas como a infância, o toque abusivo, a educação, o feminismo, a violência sobre as mulheres, a sobrevivência e o amor-próprio são abordados de modo simultaneamente metafórico e direto. A escrita de Rupi Kaur é crua e cruel, sem medo de colocar o dedo nas feridas, mas ao mesmo tempo doce e delicada, porque a vida é este jogo constante de dicotomias.

Uma forma de escrever que rompe com o convencional, acompanhada de algumas ilustrações minimalistas muito bem conseguidas e que também são da autoria desta escritora.

Susana Barão



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