Crónicas do Mal de Amor, de Elena Ferrante

 


«Crónicas do Mal de Amor» reúne os 3 primeiros romances publicados por Elena Ferrante, narrados na primeira pessoa do singular.

Em «Um Estranho Amor», conhecemos Delia, uma mulher de 45 anos que dá conta da tragédia que se abatera sobre Amalia, a sua mãe: morrera afogada, à beira-mar, ostentando somente uma sutiã de marca luxuosa. Regressada a Nápoles, durante a procura por uma resposta para tal desfecho, ficamos a conhecer o passado atribulado e incómodo que moldara a relação entre mãe e filha — a costura, os quadros de mulheres ciganas,  um amante e de episódios de violência doméstica.

Em «Os Dias do Abandono», Olga, uma mulher de 38 anos residente em Turim, é confrontada com uma notícia inesperada: o marido, Mario, anuncia, num dia de primavera, que pretende se separar. Sem acusações e discussões, ele assume perante ela as culpas de tudo o que estava a acontecer; posteriormente, descobre que fora trocada por uma mulher mais nova. Sozinha, com duas crianças pequenas e um cão, Olga é tomada por uma dor crescente, que dilacera, para depois lhe entorpecer os sentidos. Até a linguagem, antes elegante e contida, assume contornos de obscenidade.

Em «A Filha Obscura», Leda, professora universitária a viver em Florença e com quase 48 anos, parte de férias para a costa jónica. Durante a sua estada, na praia, ao observar o comportamento entre uma mãe e filha muito jovens com uma boneca, Leda é invadida por memórias que lhe são sensíveis, que ainda se encontram em carne viva: a convivência com as suas duas filhas, Bianca e Marta, que havia abandonado por três anos.

O admirável na escrita de Ferrante é a sua mestria na abordagem (única e difícil de encontrar na literatura) de temas tão sensíveis e universais como a maternidade (negligência familiar e abandono parental) ou o fim do matrimónio, sem receios de desbravar o que de mais íntimo possa existir no universo feminino, seja ele incómodo, cruel, terno ou belo.

«As coisas mais difíceis de contar são aquelas que nós próprios não conseguimos compreender.»

Susana Barão

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