Laços, de Domenico Starnone

 

«Decidi ser honesto: acho que não te ensinei, aprendeste sozinho, observando-me. E, a partir daquele momento, senti-me culpado como nunca me acontecera.»

Estas são as palavras de Aldo perante um pequeno gesto do quotidiano, que o atinge de forma atroz… serão o eco de um profundo arrependimento?

Sempre narrado na primeira pessoa do singular, a obra divide-se em três secções: na primeira, conhecemos a perspetiva de Vanda, através das cartas que escreve ao seu marido; na segunda parte, é a vez de Aldo (o marido) contar a sua versão dos factos — é aqui que presente e passado se entrelaçam, em que nos apercebemos de como as mágoas de uma crise conjugal ainda persistem nas atitudes diárias de cada um dos elementos do casal; por fim, na terceira e última parte, descobrimos como a manutenção de um casamento fragilizado por feridas que nunca chegaram a cicatrizar teve um impacto nefasto na vida dos dois filhos do casal —  é Anna (a filha mais nova de Vanda e Aldo) que dá voz a este relato, um desfecho difícil de digerir: um murro no estômago.

De leitura compulsiva, num livro com apenas 141 páginas, em que todos os pormenores importam — como os atacadores de um par de ténis, um cubo mágico, umas fotografias e até o verdadeiro significado do nome de um gato! —, Domenico Starnone apresenta-nos uma narrativa intensa, inteligente e bem estruturada, com personagens muito verosímeis, que são perfeitas na sua imperfeição.

Ainda que, por vezes, tenha encontrado alguns pontos de contacto com a novela «Os Dias do Abandono», de Elena Ferrante, posso assegurar de que, de acordo com a minha experiência de leitura, duvido seriamente de que tenha sido a mesma pessoa a escrever estas duas narrativas.

Este é o primeiro livro publicado em Portugal deste escritor italiano, com tradução de Vasco Gato e revisão de Rita Almeida Simões.

Susana Barão

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