Em Todos os Momentos Estamos Vivos, de Tom Malmquist

QUANDO A DOR AFASTA A FELICIDADE DE UMA NOVA VIDA

«Here Comes the Sun» dos Beatles era a música que Tom, o protagonista, cantava à sua filha recém-nascida, e quando ela ainda se encontrava na barriga da mãe, Karen. Contudo, ao ser questionado pela enfermeira da Neonatologia, Tom refere preferir a versão cantada por Nina Simone.

Todos os detalhes importam nesta história: é através deles que o protagonista procura expressar os seus sentimentos de dor, raiva, perda, numa tentativa de retomar a normalidade dos dias, de cuidar de Livia, agora órfã de mãe. Ao longo do processo de luto, Tom atravessa inúmeras adversidades: o confronto com a lei sueca, pela necessidade de provar a paternidade da sua filha; a morosa e agridoce despedida do seu pai, doente oncológico há vários anos.

A aparente simplicidade — e por vezes secura — na forma como os acontecimentos são revelados (intimamente ligados a cada pormenor) contrasta com o conteúdo. A narração na primeira pessoa do singular e o uso do presente do indicativo conferem intensidade e adensam o drama vivido pelo escritor sueco (autor e protagonista partilham o mesmo nome).

Ao analisar a cronologia dos episódios relatados, que se sucedem fragmentados, percebe-se que este livro terá sido escrito debaixo de um forte sofrimento emocional, como se pode ler no trecho que se segue: « (...) a morte origina uma realidade única, uma realidade que corrói toda a proteção até se ser impelido a confrontar a vida sem qualquer esperança de compaixão, não te compreendi então, compreendo-te agora, mas já não existes, és um nada para lá de todo o entendimento, e aprendi a viver no frio sem quaisquer espetativas.»

Para melhor proveito da experiência de leitura, e porque o ritmo vai desacelerando à medida que avançamos pelas páginas, recomendo que este livro, traduzido do sueco por João Reis, seja lido sem quaisquer pausas.

Susana Barão


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