Onde o Lobo Espreita, de Ayelet Gundar-Goshen

 

QUANDO AS CERTEZAS CAEM E AS INTERROGAÇÕES PREVALECEM

«Dezassete anos nos Estados Unidos, e nunca me interessei em saber onde era a saída de emergência no centro comercial, nem me perguntei qual dos passageiros do autocarro podia explodir. Agora esquadrinhei os rostos dos comensais no restaurante. (...) Olhei em volta, alerta a cada movimento. De onde espreitará o lobo?»

A narração acontece pela voz de Lila (como os americanos lhe chamam). Oriundos do País, Lilakh e Mikhael Shuster (um casal de classe social média-alta) emigraram com o filho (Adam) para a Califórnia, em São Francisco, na certeza de que aí conseguiriam prosperar e viver uma vida tranquila, longe do permanente clima de conflitualidade característico de Israel.

Até que, na véspera do Ano Novo Judaico, um homem entra por uma sinagoga e esfaqueia uma rapariga. Dizem que ele era negro. Tratar-se-ia de um atentado, de um possível crime de ódio?

Mais tarde, os papéis invertem-se: durante uma festa de adolescentes, aparece o cadáver de um jovem de dezasseis anos, da mesma turma de Adam, recaindo sobre si as suspeitas. Jamal Jones surge, assim, como uma sombra que atormenta Lilakh, mas sobretudo ao seu filho, cuja sobrancelha esquerda pisca de cada vez que este nome é mencionado.

Uma onda crescente de tensão atravessa todo o enredo, existindo também espaço para abordar, de modo não exaustivo, questões políticas e sociais como o bullying, o antissemitismo, o esquecimento na terceira idade e até a perda gestacional numa fase avançada.

A procura pelo culpado, aparentemente óbvia, deixa de o ser quando escalpelizados os passados de cada uma das personagens. A escrita de Ayelet Gundar-Goshen envolve e é muito cinematográfica, criando um bom equilíbrio entre momentos mais descritivos com outros de suspense. Os capítulos curtos incutem dinâmica à leitura.

Uma narrativa que se inicia com uma certeza e termina com uma resposta na pergunta que não se quer fazer.

Agradeço à Penguin Random House Portugal a cedência deste exemplar. Costumas ler thrillers psicológicos?

Susana Barão


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