A Vida Mentirosa dos Adultos, de Elena Ferrante

 

SOBRE A ADOLESCENTE QUE DESCOBRE COMO SER ADULTA

«Foi assim que aos doze anos fiquei a saber pela voz do meu pai, sufocada pelo esforço de a manter baixa, que estava a ficar como a sua irmã, uma mulher na qual se associavam na perfeição — ouvia-o dizer desde que me lembrava — a fealdade e a malvadez.»

Pai e mãe tratam-na por Giovanna; Vittoria, a tia, por Giannina. Mas afinal como se define esta menina quase mulher, que se descobre feia pelo pai, a pessoa que mais admira?

Um rosto apagado em fotografias. Do alto de San Giacomo dei Capri, Giovanna desce até uma zona degradada de Nápoles: é lá que vive Vittoria. Começa assim um jogo em que verdades e mentiras se entrelaçam (tal como a pulseira que acompanha toda a narrativa), mostrando como a vida e o amor podem ser opacos. Nem tudo o que parece é: há uma denúncia que se aproxima pela mera observação atenta daqueles que nos são mais próximos e a constatação da coexistência do bom e do mau, do bonito e do feio.

No seio de uma família ateísta e comunista, Giovanna é educada com liberdade para ser uma intelectual; ao conviver com a tia, apercebe-se da sua devoção a Deus e à Igreja, apesar do uso violento do dialeto e dos seus gestos rudes e ríspidos.

No liceu, o interesse pelos estudos transfere-se para a obsessão pelos romances. As amizades mudam, despertando a curiosidade e o desejo pelo sexo oposto.

Em «A Vida Mentirosa dos Adultos», Elena Ferrante consegue de forma magistral reproduzir com credibilidade o discurso e os pensamentos mais íntimos de uma adolescente, sem receio de ferir suscetibilidades, ao utilizar, por vezes, uma linguagem mais crua, quiçá obscena. O final poderá chocar, contudo, entendemo-lo melhor quando refletimos a posteriori.

Ainda que não me tenha arrebatado como a Amiga Genial, gostei muito de ler esta história.

Qual o teu livro preferido desta escritora que prefere continuar a manter o anonimato?

Susana Barão


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