Um Muro e Uma Cerca, de Elisabete Martins de Oliveira

 


SOBRE A BELEZA DAS HISTÓRIAS SIMPLES QUANDO ABORDADAS COM UMA GRANDE SENSIBILIDADE


O miúdo tem razão — consegui mostrar um sorriso. É impossível não o fazer quando se diz uma palavra com tantas vogais. O nosso rosto contorce-se para mostrar um pedacinho de alegria. (p. 111)

Ler «Um Muro e Uma Cerca», da querida @elisabete.martins.de.oliveira, transformou-se num momento bastante especial, porque, ainda antes de este livro ser publicado, já havia tido a oportunidade de privar com a autora (minha conterrânea!) e sabia o quão grande era (e sempre foi) o seu sonho de escrever e de ver os seus livros publicados por uma editora tradicional (dizem que o segundo já se encontra «no forno», 🤭).

E, depois deste breve parêntesis, eis o que tenho a dizer sobre o seu primogénito: organizado em capítulos curtos, apresenta uma escrita clássica, acessível, limpa (destaco o uso inteligente da pontuação), com uma estrutura narrativa irrepreensível, em que as descrições são pormenorizadas sem ser exaustivas, e com forte prevalência dos diálogos, o que incute fluidez ao enredo.

Considero curiosa a escolha de dois protagonistas-narradores para contar esta história: Elias, um senhor viúvo e solitário de 72 anos, e Santiago, um menino de 10 anos. São vizinhos e residentes em moradias situadas em Fernão Ferro, no concelho do Seixal, estando separados fisicamente por um muro e uma cerca, esta última mandada construir por Elias, que não pretendia ser incomodado por uma criança curiosa que, apenas, queria fazer um amigo, pois sentia-se sozinha tanto em casa (com pais ausentes e pouco atentos aos seus problemas) como na sua nova escola — além de não conhecer ninguém, era, ainda, atormentado por outros miúdos mais velhos e problemáticos… Por também eu, quando nova, ter sido vítima de bullying (embora, na época, ainda não se utilizasse este conceito), tornou-se complicado ler alguns dos episódios relatados.

Notou-se a preocupação da escritora com os(as) leitores(as): a de lhes facilitar a vida, ao querer deixar claro as mensagens que pretendia transmitir com esta narrativa.

Susana Barão

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