Canções para o incêndio, de Juan Gabriel Vásquez

SOBRE NARRATIVAS DE COMBUSTÃO LENTA

Na verdade, não é uma história, mas várias; ou, pelo menos, uma história com vários começos, embora só tenha um final. E devo contá-los todos (…) porque em qualquer um deles pode estar a verdade, a tímida verdade que procuro no meio deste factos desmedidos. (p. 191)

Neste seu «Canções para o incêndio» (cuja citação acima é retirada do conto que partilha o nome com o livro), o escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez apresenta um conjunto de nove curtas narrativas contadas em jeito de crónica, como se cada uma se tratasse de um relato.

A presença de um narrador-personagem escritor/cronista é comum em quase todas; apenas duas histórias, salvo erro, são narradas na terceira pessoa do singular. O papel deste(s) narrador(es), cujo nome desconhecemos, pode ou não ter uma presença direta no enredo.

Em quatro dos nove contos deste livro, o narrador não assume uma presença direta, ou, interagindo com outras personagens, não interfere no desfecho da trama: quando relata a história de uma fotógrafa que lhe conta ter testemunhado algo que preferia nunca ter tomado conhecimento; no dia em que se cruza, num bar em Paris, com um militar que lhe confidencia uma tragédia; na semana em que acompanha um grupo de músicos em digressão e descobre o que ditou o fim dramático do primeiro vocalista da banda; quando partilha a história fascinante e violenta de uma órfã cujos restos mortais se encontram num cemitério criado para acolher aqueles que foram renegados pela Igreja.

Já em outros contos, por exemplo, o narrador tem uma participação ativa enquanto personagem: no caso em que se torna figurante num filme de um realizador conhecido; quando vivencia um sentimento agridoce — o de ter escolhido a bola certa, resultando, da sua sorte, o azar do seu amigo, que é, assim, enviado para a guerra.

Com uma escrita peculiar e revestida de muitas camadas, Juan Gabriel Vásquez consegue surpreender pela originalidade de cada história e pelo minucioso conhecimento de como o Homem reage e atua quando se encontra perante situações de tensão, de iminente perigo.

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Susana Barão


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