O meu nome é Lucy Barton, de Elizabeth Strout

 

PARTINDO DO BANAL PARA ESCALPELIZAR AS RELAÇÕES HUMANAS

Mas esta é a minha história. E, contudo, é a história de muitos. (…) E o meu nome é Lucy Barton. (p. 169)

Um bom livro nem sempre necessita de ser inovador, de contar uma história que seja original. Lucy Barton, a protagonista, narra acontecimentos comuns do quotidiano, de modo simples e natural, revelando, contudo, um profundo conhecimento e um «olhar atento» aos gestos, sentimentos e emoções de cada personagem.

Vivendo em Nova Iorque, e partindo de um episódio que lhe ocorrera há alguns anos, em que ficara internada num hospital com uma infeção bacteriana, Lucy recebe a visita da sua mãe — era a primeira vez que a via desde que se casara com William e, com ele, tivera duas filhas. Em cada diálogo, nota-se a familiaridade no trato e, simultaneamente, a dificuldade em demonstrarem o afeto e o amor que nutriam uma pela outra. Durante os dias em que permanece junto da filha, a mãe partilha episódios de vizinhos e outros habitantes da pequena vila em Illinois na qual Lucy crescera e vivera, até decidir estudar na faculdade e, mais tarde, fazer da escrita a sua profissão.

Apesar de o relato da convivência entre mãe e filha no hospital se manter linear, o enredo encontra-se organizado em pedaços fragmentados de memórias, com Lucy a descrever o seu percurso até se tornar numa escritora reconhecida, enquanto recorda incidentes da sua infância difícil, envolta em muita pobreza e miséria, pelas condições precárias em que vivia, bem como pela violência de que era vítima no seio da sua família. Admito que me impressionei e, por vezes, me arrepiei nos momentos em que Lucy confessava não estar segura de se lembrar com detalhe de algumas memórias — possivelmente, as mais dolorosas.

Em «O meu nome é Lucy Barton», Elizabeth Strout consegue, mesmo não se tratando de uma narrativa inesquecível, prender-nos à história da sua personagem e «abrir apetite» para os três volumes seguintes, ao lançar algumas pistas neste primeiro livro.

Susana Barão


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