Oh, William!, de Elisabeth Strout
SOBRE
CASAMENTO E DE QUEM SOMOS PELA MANEIRA COMO NOS RELACIONAMOS COM OS OUTROS
O que eu quero dizer é que as pessoas estão sozinhas. Muitas pessoas não conseguem exprimir a quem conhecem bem aquilo que sentem que talvez queiram dizer. (p. 113)
Neste terceiro volume da tetralogia Amgash, acompanhamos a escritora de sucesso Lucy, uma mulher sexagenária que enviuvara recentemente do seu segundo marido. Por outro lado, temos William, ex-marido de Lucy, parasitólogo de profissão e prestes a completar setenta anos. Lucy quer falar dele aos seus leitores, mas será que esta narrativa apenas se centra na sua relação, de quando ainda eram casados (durante quase duas décadas) e de como continuaram a dar-se bem anos depois de se divorciarem (com duas filhas adultas em comum)?
Pesadelos noturnos, a descoberta de um segredo familiar e o término do seu terceiro casamento levam William a convidar a sua ex-mulher Lucy para uma viagem até Maine. Naqueles dias que ali permanecem, e enquanto recolhem mais informação sobre as origens da família de William, Lucy vê-se confrontada com o seu passado: em Illinois, ao relembrar vivências da sua infância (recupera alguns episódios descritos no primeiro livro da saga e também acrescenta outros que, confesso, chocaram-me); da sua vida conjugal com William; do momento em que decidira abandonar a sua família.
São poucas as pessoas que conseguem libertar-se das suas contingências familiares e culturais; Lucy destaca-se por essa particularidade; contudo, há marcas difíceis de apagar, e cheiros e roupas que podem, por vezes, nos denunciar. Lucy sente-se invisível, muitas vezes incompreendida. Em William, encontrou um lar e a sua segurança. Mas as pessoas mudam, e Lucy também.
Em «Oh, William!», Elisabeth Strout comprova, de forma inequívoca, a sua capacidade em decompor a complexidade de que são feitas as relações humanas, sendo uma fabulosa escritora de personagens, que não precisa de histórias rocambolescas ou originais para tornar agradável e viciante a leitura dos seus livros.
Qual o teu volume favorito desta tetralogia?
Susana Barão
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